SÃO PAULO (Reuters) - Quando transformou seu trabalho de 13 meses seguindo aves na Antártida no delicado 'A Marcha dos Pinguins', o biólogo francês Luc Jacquet abriu as portas do cinema para muitos outros cineastas da natureza, por assim dizer. E não se fala, aqui, de documentários sobre a vida natural, gênero de que o próprio Walt Disney foi pioneiro na década de 1940 ('Seal Island', de 1949), mas de uma moderna prática de humanizar os animais retratados.
Na produção francesa, por exemplo, o casal de pinguins e seu filhote ganharam vozes de atores para aumentar a carga dramática. Já em 'Reino dos Felinos', que estreia exclusivamente na rede Cinemark, os diretores Alastair Fothergill ('Terra') e Keith Scholey preferiram dar nomes e contar à plateia sobre os sentimentos dos tais felinos.
Filmado na Reserva Nacional de Masai Mara, no Quênia, este novo documentário da Disneynature mostra o dia a dia da leoa Mara, da mãe guepardo Sita e de Kali, um leão banido de seu grupo, que volta para tomar o lugar do macho alfa. As fantásticas imagens captadas, por si só, valeriam o ingresso. Mas não satisfeitos com o resultado, os diretores resolveram ampliar o drama no texto.
Narrado originalmente pelo ator Samuel L. Jackson, o filme torna-se um novelão arrastado, com frases de efeito, muitas delas voltadas ao público infantil. E situações não faltam: a leoa Mara tem uma 'mãe' doente, que se sacrifica pela 'filha'; motivo suficiente para a máxima 'não há laço mais forte do que o de uma leoa com seu filhote'.
Em outro caso, a fêmea guepardo, Sita, precisa enfrentar todos os perigos que cercam os seus cinco e indefesos filhotes. Mas todo o suspense é quebrado com as intervenções narrativas e seus tolos eufemismos, que trocam 'predadores' por 'valentões'. Em determinado momento, quando uma tartaruga azarada cai nas garras dos filhotes e é praticamente torturada, no texto significa que ela encontrou 'novos amigos para brincar'.
A estreia de 'Reino dos Felinos' está casada com o relançamento, agora em 3D, do clássico dos estúdios Disney 'O Rei Leão' (1994). Curiosamente, quando colocados lado a lado, a animação parece ser menos infantil do que o documentário. E menos cafona também, o que é uma tarefa bem difícil quando se lembra da música 'Circle of Life' na trilha sonora do desenho.
(Por Rodrigo Zavala, do Cineweb)
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