LINHA ESTÉTICA CANINA ......

Lojas inventam doces para cães, mas "agrados" devem ser dados com cautela
Fabiano Cerchiari/Folha Imagem

O golden retriever Billy, 8, que está obeso por comer bolachas, doces e chocolates

Sobremesa controlada [por Roberto Oliveira]
Quem não gosta de um "agrado"? "Biscroks", bolinhos, bolachas, doces, tortas, tudo que foge da trivial ração do dia-a-dia tem esse apelo para os animais. Oferecer sobremesa seria a melhor forma de compensar o bicho por seu bom comportamento, mas o difícil é controlar quantidade e horário para o tal "agrado". O risco: alimentação descontrolada, aliada à falta de exercícios, causa uma série de problemas para os animais domésticos, como lesões nas articulações, diabetes e obesidade.
O veterinário Regis Cristiano Ribeiro, 52, especialista em problemas digestivos, calcula que cerca de 30% dos animais estejam acima do peso recomendado.
Tabelas internacionais, como a do AKC (American Kennel Club), especifica o peso ideal para cada raça e serve de referência. Em animais sem raça definida, o diagnóstico leva em conta o visual do tronco, abdome e base do rabo, que costumam concentrar mais gordura, segundo ele.
Alimentação irregular também provoca acúmulo de tártaro nos dentes, além de mau hálito. "Só dê alimentos balanceados indicados pelo veterinário e nunca produtos com açúcar ou gordura", recomenda Regis.
Desde pequenino, o golden retriever Billy teve seus caprichos atendidos pelos donos. Hoje, com oito anos, pesando 45 kg, está 10 kg acima do recomendado. Entre uma refeição e outra, bolachas, doces, chocolates e até pizza. "Ele fica latindo e vence a gente pelo cansaço. Há momentos em que o coração não aguenta e você acaba dando", confessa a dona de Billy, a nutricionista Tatiana Sukada, 22. "Sei que não é recomendável, mas não consigo convencer a família toda a se controlar. Meu pai acha que cachorro nasceu para comer."
Para a veterinária Regina Mota, 43, o "agrado" só deve ser oferecido para finalidades educativas. "Nunca com açúcar ou gordura. Tente uma fruta", sugere.
Guloseimas Para atender aqueles que não se aguentam
Existem lojas de doces exclusivas para cães e gatos. Em Higienópolis, a Nicole Candies for Dogs oferece cerca de dez tipos de guloseimas, de biscoitos a minibolos, de "pirulicão" a "mufficão", com preços a partir de R$ 1,50, mas há quem pague R$ 300 por um bolo de casamento esculpido no formato de um "casal" de cães. Zezé Machado, 57, dona e "gourmet" da loja, diz que só usa produtos naturais, como mel e frutose no lugar do açúcar e farinha integral e de arroz.
A veterinária Camila Milani, 30, uma das sócias da padaria The Dog Bakery, na Aclimação, também afirma usar apenas produtos naturais que não interferem na saúde. "Até o dono pode comer", diz. São biscoitos, tortas, pães, quibes e doces.
"Como qualquer agrado, pode ser dado todo dia, mas sem excesso. Eles não substituem a ração", diz Camila. Animais com problemas de saúde, como cardíacos, obesos e com insuficiência renal, diz ela, devem evitar esse tipo de comida.
Para a veterinária Regina Mota, o bicho não sabe diferenciar um bolinho enfeitado de uma linguiça. "Essas guloseimas não foram feitas para satisfazer o animal, mas os donos", critica.
Ronaldo Lucas, 35, vice-presidente da Sociedade Brasileira de Dermatologia Veterinária, não recomenda para filhotes. "Também não pode virar refeição principal dos animais adultos, mas uma ou duas vezes por semana não vejo problema."
Onde encontrarNicole Candies for Dogs. R. Aracaju, 69-A, Higienópolis, tel. 3825-8026.
The Dog Bakery. Av. Lacerda Franco, 92, Aclimação, tel. 3399-3060.
De olho na balança
Raça - Peso máximo (adulto)
Basset hound - 30 kg
Beagle - 20 kg
Bichon frisé - 9 kg
Boxer - 30 kg
Buldogue inglês - 25 kg
Chow chow - 25 kg
Cocker spaniel - 15 kg
Collie - 29 kg
Dachshund (teckel) - 9 kg
Dálmata - 27 kg
Doberman - 45 kg
Fox paulistinha (terrier brasileiro) - 10 kg
Labrador - 30 kg
Lhasa apso - 7 kg
Pastor alemão - 40 kg
Pinscher anão - 4 kg
Pointer inglês - 30 kg
Poodle miniatura - 7 kg
Rottweiler - 50 kg
Shih-tzu - 8 kg
Yorkshire - 3,1 kg

Fonte: Revista da Folha, 31/08/2003